domingo, 9 de março de 2025

Oscar

Meu ex-chefe, já falecido, uma vez me contou uma história, já era fim de expediente, nos estávamos descendo a escada de saída do prédio, e não lembro mais o que perguntei para ele, mas a gente parou e ficou conversando na escada, ele me falou do tempo que ele morou no exterior e o porque ele morou lá, ele tinha sido exilado na época da ditadura, ele ficou na casa de amigos no exterior. 

Enquanto ele me contava um pouco da época, ele falou sobre antes de ir, lembrou de uma amiga que ele tinha, uma pessoa querida para ele, era uma mulher inteligente, alegre e vivaz, e ele nunca mais a viu depois que foi para o exterior, ela desapareceu na época da ditadura. Enquanto ele me contava sobre ela os olhos dele estavam marejados, acho que foi a primeira vez que vi realmente a tristeza daquele período, eu conhecia a história, aprendi na escola e felizmente tive ótimos professores. Mas conversando com ele naquele dia eu senti a tristeza e o peso das perdas e das memórias que ele carregava.

Por um lado com tudo que acontece no mundo no momento eu fico contente de ele não está mais aqui para ver o que tem acontecido, ele já lutou a luta dele não precisava ver isso de novo. Mas por outro lado eu queria ver a reação dele quando o Brasil ganhou o Oscar por Ainda estou aqui, com todo mundo comemorando o prêmio por um filme que deixa claro o que foi a ditadura, a dor que causou e as injustiças. E em todos os lugares do Brasil a comemoração por esse filme que deixa registrado de uma forma que ninguém pode negar ou esconder o que esse país passou.