quarta-feira, 18 de julho de 2018

Sexismo e Padrões de Gênero


Sabe eu tenho pensando nisso a muito tempo, de vez em quando pipoca na minha cabeça, e hoje lendo o artigo da Caity Lotz e Candice Cameron do Shethority, me deu vontade de escrever a respeito. O texto fala sobre sexismo e padrões de gênero da sociedade e como isso afeta as pessoas.

Eu tive e tenho muita sorte de crescer numa família que me ama muito, mas de todo o percurso até aqui eu enfrentei algumas coisas que nem se compara a outras situações mais graves que outras pessoas já passaram e por isso eu tendo a não dar importância e não pensar no assunto, porque eu sei que tem muita gente que passou e passa por coisa pior, mas não muda o fato de que essas situações me marcaram, tanto que eu me lembro, como também me moldaram.

Eu sempre fui meio moleque, sempre gostei de correr, brincar, subir em árvore e pegar fruta do pé, até usava vestido quando era criança tinha um de palhaço que eu adorava (detalhe que detesto palhaço), um dia numa festa uma tia falou pra mim que menina não podia subir em árvore porque usava vestido, advinha o que eu nunca mais fiz questão de usar? Pois é. Eu era bem criança e me lembro bem desse dia. Hoje se eu sou obrigada a usar vestido por causa de alguma exigência de evento ou algo assim que não dê pra eu não ir, uso um short e uma camisa regata por baixo.  Desde sempre gosto de usar short, as raras vezes que usava saia vinham encher o saco pra sentar direito, não correr bla bla bla, também não uso mais.

Minhas tias sempre implicavam com minhas roupas porque não gosto de usar roupa curta nem com decote, e eu pensava meu Deus, se eu fosse daquelas meninas que usam roupa curta e com decote elas iam está reclamando também, isso me chateava demais.

Nas festas de aniversário, tinham lembrancinhas pra levar, de meninos era azul e de meninas era rosa, a de meninos vinha com carrinhos, bonecos e doces, e das meninas com uma bonequinha bebê e doces, era uma briga porque eu queria o brinquedo dos meninos também, uma vez numa festa de aniversário do meu primo, eu era pequena e minha mãe sempre falou pra respeitar os meus velhos, não discutir com eles e tal, mas nesse dia eu falei e reclamei com minha tia que eu queria a lembrancinha dos meninos que era muito mais legal, sai da festa com as duas e eu fiquei muito orgulhosa de mim mesma naquele dia por ter me defendido e defendido meu ponto de vista. Mas não tanto quanto eu fiquei a alguns anos atrás porque numa outra festa de aniversário, eu já adulta na festa de um outro primo criança, tinha as tais das lembrancinhas de menino e menina, e uma criança tinha pedido a lembrancinha que não era designada a si e a pessoa responsável estava dizendo que a criança estava errada e não podia levar, e a minha tia, a mesma tia com quem eu tinha discutido tinha tomado a frente pra defender o direito da criança de levar a lembrança que quisesse e que aquela proibição não tinha nada haver, nesse momento eu realmente senti muito orgulho da minha tia porque eu sabia o quanto ela tinha mudado e crescido.

Como eu tinha um jeito mais de moleque a minha vida toda eu ouvi comentários das minhas tias discutindo sobre minha sexualidade, teve uma situação quando eu já era adolescente que tava eu, meus primos e uma tia minha conversando de boa, de repente começaram a falar sobre emo, na interpretação da minha tia emo era o mesmo que gay, ai conversa vai e vem de repente ela solta uma que sempre esperava que eu virasse emo, todo mundo parou de falar e me olhou, ai meu primo falou que, não nada haver, emo se veste assim, faz assim e tal. Mais todo mundo entendeu o que ela tava querendo dizer. E eu sempre fui meio atrasada com questão a sexualidade, na minha escola tava todo mundo namorando e eu tava feliz da vida brincando de esconde- esconde na rua e assistindo desenho animado então, aquele comentário me constrangeu de uma forma que eu não sabia explicar, porque o que ela falou não era um pensamento na minha cabeça na época.

Todos esses comentários faziam eu me sentir errada, como se tivesse algo errado comigo, e quando realmente o entendimento de sexualidade chegou a minha consciência eu fiquei com medo porque eu lembrava dessas situações, do julgamento velado que esses comentários traziam e isso pesou muito na aceitação de quem eu sou, e eu tive que refletir muito pra entender que esses julgamentos eram problemas delas e não meu.

Essas são coisas simples e comuns, talvez já tenha acontecido com você, eu como adulta hoje, apesar de não me considerar muito gente grande, tento ter cuidado quando falo com crianças porque eu sei, eu lembro, que às vezes o que os adultos falam marcam a gente de uma forma que a gente nem tem noção. Crianças escutam e prestam atenção, e o pior vão interpretar as coisas baseado no conhecimento que elas tem do mundo que não é muito, talvez o adulto nem tenham a intenção de fazer a criança se sentir mal mas não é o trabalho da criança entender o contexto é trabalho do adulto ser claro e prestar atenção no que está falando.

Ps: essas situações de coisas de menino e coisas de menina sempre me irritaram, principalmente quando não me deixavam fazer algo usando esse argumento.

Um comentário:

  1. De fato, marcam demais. Não me lembro de ter ouvido alguma vez dos meus pais que se atrair por alguém do mesmo sexo era errado, mas é algo que a gente simplesmente aprende pelas conversas veladas, pelos olhares, pelos comentários e etc. E eu que também quando me percebo tão privilegiada ainda assim cheia de marcas procuro também me melhorar e tomar cuidado pra não marcar alguém com meus próprios receios.
    Bela reflexão Nanda!

    <3 Beijos

    ResponderExcluir