Sabe eu tenho pensando nisso a
muito tempo, de vez em quando pipoca na minha cabeça, e hoje lendo o artigo da
Caity Lotz e Candice Cameron do
Shethority, me deu vontade de escrever a
respeito. O texto fala sobre sexismo e padrões de gênero da sociedade e como isso afeta
as pessoas.
Eu tive e tenho muita sorte de
crescer numa família que me ama muito, mas de todo o percurso até aqui eu enfrentei
algumas coisas que nem se compara a outras situações mais graves que outras
pessoas já passaram e por isso eu tendo a não dar importância e não pensar no assunto, porque eu sei que
tem muita gente que passou e passa por coisa pior, mas não muda o fato de que
essas situações me marcaram, tanto que eu me lembro, como também me moldaram.
Eu sempre fui meio moleque,
sempre gostei de correr, brincar, subir em árvore e pegar fruta do pé, até
usava vestido quando era criança tinha um de palhaço que eu adorava (detalhe
que detesto palhaço), um dia numa festa uma tia falou pra mim que menina não
podia subir em árvore porque usava vestido, advinha o que eu nunca mais fiz
questão de usar? Pois é. Eu era bem criança e me lembro bem desse dia. Hoje se
eu sou obrigada a usar vestido por causa de alguma exigência de evento ou algo
assim que não dê pra eu não ir, uso um short e uma camisa regata por baixo. Desde sempre gosto de usar short, as raras
vezes que usava saia vinham encher o saco pra sentar direito, não correr bla
bla bla, também não uso mais.
Minhas tias sempre implicavam com
minhas roupas porque não gosto de usar roupa curta nem com decote, e eu pensava
meu Deus, se eu fosse daquelas meninas que usam roupa curta e com decote elas
iam está reclamando também, isso me chateava demais.
Nas festas de aniversário, tinham lembrancinhas pra levar, de meninos era azul e de meninas era rosa, a de
meninos vinha com carrinhos, bonecos e doces, e das meninas com uma bonequinha
bebê e doces, era uma briga porque eu queria o brinquedo dos meninos também, uma vez numa
festa de aniversário do meu primo, eu era pequena e minha mãe sempre falou pra
respeitar os meus velhos, não discutir com eles e tal, mas nesse dia eu falei e
reclamei com minha tia que eu queria a lembrancinha dos meninos que era muito mais
legal, sai da festa com as duas e eu fiquei muito orgulhosa de mim mesma
naquele dia por ter me defendido e defendido meu ponto de vista. Mas não tanto quanto eu fiquei a alguns anos atrás porque numa
outra festa de aniversário, eu já adulta na festa de um outro primo criança,
tinha as tais das lembrancinhas de menino e menina, e uma criança tinha pedido
a lembrancinha que não era designada a si e a pessoa responsável estava dizendo
que a criança estava errada e não podia levar, e a minha tia, a mesma tia com
quem eu tinha discutido tinha tomado a frente pra defender o direito da criança
de levar a lembrança que quisesse e que aquela proibição não tinha nada haver,
nesse momento eu realmente senti muito orgulho da minha tia porque eu sabia o
quanto ela tinha mudado e crescido.
Como eu tinha um jeito mais de
moleque a minha vida toda eu ouvi comentários das minhas tias discutindo sobre
minha sexualidade, teve uma situação quando eu já era adolescente que tava eu,
meus primos e uma tia minha conversando de boa, de repente começaram a falar
sobre emo, na interpretação da minha tia emo era o mesmo que gay, ai conversa
vai e vem de repente ela solta uma que sempre esperava que eu virasse emo, todo
mundo parou de falar e me olhou, ai meu primo falou que, não nada haver, emo se
veste assim, faz assim e tal. Mais todo mundo entendeu o que ela tava querendo
dizer. E eu sempre fui meio atrasada com questão a sexualidade, na minha escola
tava todo mundo namorando e eu tava feliz da vida brincando de esconde- esconde
na rua e assistindo desenho animado então, aquele comentário me constrangeu de
uma forma que eu não sabia explicar, porque o que ela falou não era um pensamento
na minha cabeça na época.
Todos esses comentários faziam eu
me sentir errada, como se tivesse algo errado comigo, e quando realmente o
entendimento de sexualidade chegou a minha consciência eu fiquei com medo
porque eu lembrava dessas situações, do julgamento velado que esses comentários traziam
e isso pesou muito na aceitação de quem eu sou, e eu tive que refletir muito pra
entender que esses julgamentos eram problemas delas e não meu.
Essas são coisas simples e
comuns, talvez já tenha acontecido com você, eu como adulta hoje, apesar de não
me considerar muito gente grande, tento ter cuidado quando falo com crianças
porque eu sei, eu lembro, que às vezes o que os adultos falam marcam a gente de
uma forma que a gente nem tem noção. Crianças escutam e prestam atenção, e o
pior vão interpretar as coisas baseado no conhecimento que elas tem do mundo que não é muito,
talvez o adulto nem tenham a intenção de fazer a criança se sentir mal mas não
é o trabalho da criança entender o contexto é trabalho do adulto ser claro e
prestar atenção no que está falando.
Ps: essas situações de coisas de menino e coisas de menina sempre me irritaram, principalmente quando não me deixavam fazer algo usando esse argumento.